Beatriz Loureiro |
Beatriz César Loureiro é aluna de História da Arte na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e encontra-se no último ano de licenciatura.
Em 2014 ensinou inglês durante três meses, como professora voluntária, em diversas localidades Chinesas, em colaboração com a Universidade de Ningbo na província de Zhejiang. Outros dos seus projectos incluem, em 2015, trabalho como voluntária, em conjunto com a Spira, na 3ª edição da Feira do Património que se realizou em Coimbra, no Mosteiro de Santa Clara-a-Velha. Ainda em 2015, foi voluntária através do CAPC (Círculo de Artes Plásticas de Coimbra) no “Anozero: Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra”. Em 2016 realizou um semestre de intercâmbio patrocinado pela ELAN (European Liberal Arts Network) na Universidade de Uppsala, na Suécia, onde se dedicou, maioritariamente, ao estudo de Cultura e Literatura Celta. |
para lá do liminar:
|
O conceito de "centralidade" é um dos motivos mais marcantes da cosmovisão Celta. No entanto, o “Outro Mundo”, associado a lugares marginais, aparece recorrentemente como motivo literário de extrema complexidade e importância na literatura que lhe é atribuída. Este só poderia ser alcançado pelos dignos mortais que, quer por convite ou iniciativa privada, atravessassem a fronteira que os separava do reino imortal. Todavia, torna-se rapidamente perceptível que essa separação coexiste estreitamente com a sua imediação: o “Outro Mundo” está escondido dentro do reino mortal e, mais frequentemente do que não, a barreira entre os dois mundos não é de distância, mas de percepção. Do ponto de vista cognitivo, esses dois quadros de referência nunca são destacados do centro: as fronteiras do território tribal representam os limites, tanto da ordem como da realidade, e além está o “Outro Mundo”, onde o tempo e o espaço são redimensionados e a ordem se torna invertida à medida que este se afasta do centro sem, contudo, perder a sua estrutura. Em paralelo, um sistema representativo como este, construído em torno de um eixo central, é uma das características-chave dos padrões abstractos popularizados pela arte celta. Estes não têm um eixo de simetria mas sim um centro específico e um determinado sentido de direção. Mas as permutas entre centro e margem não acabam por aqui. Tal como na literatura, também nas artes visuais, este dinamismo cria uma multiplicidade de interpretações que só podem ser apreciadas caso se dê uma mudança de percepção. O uso da narrativa sobrenatural não-linear pode ser considerado como um dos dispositivos narrativos mais eficazes, quando se trata de passar certa e determinada mensagem ao leitor. Pertencendo ao mesmo discurso linguístico ficcional - embora com diferentes funções semióticas – tanto a literatura como a produção artística material são preenchidas por motivos com o propósito de esbater as fronteiras da realidade, que ativam vários mecanismos de memória e que permitem uma combinação mais complexa do conhecimento. Na presente comunicação, proponho-me a analisar - trazendo para a discussão paralelamente artes visuais e literatura - as capacidades de comunicação dessas imagens a partir do momento em que elas mesmas – produzidas através da mistura e justaposição de elementos realistas e fantásticos - tomam o centro do palco como âncora material para misturas conceituais, aumentando a estabilidade da estrutura e permitindo assim um raciocínio mais complexo. Atrevo-me até a dizer que, sem estas corajosas incursões para lá do “centro”, o mundo Celta, ao retornar, não seria capaz de fazer sentido de si mesmo. |