a criação da identidade brasileira:
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A estetização da vida social bem como do conhecimento sobre realidades distantes geográfica e historicamente, avançou, no século XIX, devido à invenção e ao uso das tecnologias de captação e reprodutibilidade da imagem. A utilização desse recurso para reafirmar os poderes imperialistas e colonizadores não são novidade. Estuda-se largamente o uso da fotografia para registar civilizações e indivíduos que se distanciavam do discurso europeu, entendendo esses como seres inferiores, selvagens e marginalizados. Tal uso da fotografia cria o conceito de fotografia colonial, ou seja, aquela que regista o discurso do colonizador que, por sua vez, se coloca em um lugar central, ou seja, de superioridade em relação àquilo que está sendo captado por sua câmara, desvelando o mundo “desconhecido e bárbaro”. O olhar do português torna-se importante neste contexto, pois foram os colonizadores os primeiros a divulgar uma “imagem” do Brasil para o mundo, seja por meio das cartas ao rei de Portugal enviadas por D. Pero Vaz de Caminha, seja, posteriormente, por meio da fotografia de “tipos” com as cartes de visite elaboradas pelo fotógrafo português Christiano Júnior, possuidor da maior coleção de fotos de escravos produzida ainda no século XIX. Há também fortes relações de gênero que permeiam a fotografia da época colonial, atribuindo um papel inferior às mulheres, especialmente aquelas não-europeias. Fotografias de mulheres seminuas ou mesmo nuas são sempre presentes na visualidade colonial, explicado como “resultado de uma dominação em relação ao visível – em relação àquilo que pode se tornar visível – assim como da hegemonia masculina no espaço colonial” (Vicente, 2014, p.22). Para uma reflexão sobre estas questões, propõe-se uma discussão de alguns trabalhos artísticos contemporâneos, a fim de provocar uma análise sobre as construções atuais de imagem de brasileiros por fotógrafos portugueses, numa discussão sobre as representações de um olhar sobre o “Outro”, do estrangeiro, este considerado como ser à margem da sociedade ou bode expiatório (Simmel, 1990) dos problemas enfrentados pelo centro colonizador. As reflexões serão efetuadas por meio da análise de alguns trabalhos realizados pelos artistas portugueses Miguel Valle de Figueiredo e André Cepeda, experientes fotógrafos das paisagens e personagens brasileiros. |