Lúcia Rosas |
Professora Catedrática do Departamento de Ciências e Técnicas do Património da FLUP. Diretora do Departamento de Ciências e Técnicas do Património. Investigadora do CITCEM – Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória, FCT. [email protected]
Algumas publicações: Rosas, L., Costa, P. P. (2017). Vera Cruz de Marmelar in XIIIth-XVth centuries: a St John's commendary as an expression of a cultural memory and territorial appropriation. In J. Schenk e M. Carr (Coord.) The Military Orders: culture and conflict in Western and Northern Europe (pp. 164-171). London: Routledge; Rosas, L. (2015). Architecture and Identity. In F. Sabaté e L. A. da Fonseca (Coord.), Catalonia and Portugal. The Iberian Peninsula from the Periphery (pp. 205-222). Peter Lang AG, International Academic Publishers, Bern; Rosas, L., Sousa, A. C. (2014). La iconografía de San Bartolomé en el sepulcro de D. Pedro I (Monasterio de Alcobaça, Portugal) in Revista Digital de Iconografía Medieval. Madrid: Universidad Complutense, vol. VI, no 12, 2014, p. 81-104; Rosas, L. (2014). Espaço religioso e transformação: a fundação de capelas na época gótica. In A. de S. Saraiva M. do R. Morujão (Coord.), O clero secular medieval e as suas catedrais: novas perspectivas e abordagens (pp. 101-122). Lisboa: Centro de Estudos de História Religiosa, Universidade Católica; Rosas, L. (2008). A representação de São Cristovão na pintura mural portuguesa dos finais da Idade Média. Crença e magia. In V. O. Jorge e J. M. C. Macedo (Coord.) Crenças, Religiões e Poderes. Dos Indivíduos às Sociabilidades pp. 365- 373. Porto: Edições Afrontamento. Rosas, L. (2005). “The restoration of Historic Buildings Between 1835 and 1929: The Portuguese Taste”, L. A. da Fonseca, O. Almeida, A. C. Pinto, J. L. Cardoso e CUNHA, M. S. da Cunha (ed.) E-journal of Portuguese History, V. 3, n.o 1, 2005: The University of Oporto/ Brown University, 15 pp. |
a escultura românica:
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No românico português não é tarefa fácil entender o sentido das imagens ou as possíveis relações temáticas entre os capitéis ou outros elementos esculpidos numa mesma igreja. O número de capitéis românicos historiados com temas religiosos, míticos e profanos, não ultrapassará uma centena e meia (ALMEIDA, 2001) e raros são os que apresentam um claro sentido. A escultura arquitectónica aparenta estar colocada de forma aleatória, sobretudo no que diz respeito ao interior dos templos. Necessitamos de processos analíticos que superem os dois postulados geralmente presentes na análise da escultura dos capitéis românicos, como sugerem Baschet, Bonne e Dittmar (2012): a noção de programa que, aplicada à escala de igreja, tende a sugerir que quase tudo foi definido anteriormente, e que toda a escultura está unida entre si com o propósito de criar um discurso contínuo e unificado, e a noção de que a distribuição da escultura não corresponde a nenhuma organização coerente. À dificuldade de identificação/interpretação dos temas figurativos associa-se uma tendência muito presente no românico português, a abundância de capitéis vegetalistas. Os capitéis vegetalistas, habitualmente considerados como elementos à margem da narração e dos programas iconográficos podem ser pensados como parte integrante do sentido? Qual é realmente a sua função? Embelezar o edifício sacro? Constituírem-se como elementos de contraste com os capitéis figurativos potenciando o significado das imagens? As relações entre as imagens presentes em capitéis e cachorros parecem fazer parte de uma ordem descontínua e polarizada ou seja, uma ordem que nem sempre é sequencial ou narrativa. Os personagens que tocam um instrumento de cordas, frequentemente presentes em capitéis, cachorros e aduelas representam, como reiteradamente se escreve, um jogral, uma marca do quotidiano como se a escultura fosse um inventário de costumes do passado? O facto de surgirem isolados significa que não fazem parte de um sentido concreto e que estão à margem do sentido geral do programa iconográfico ou, pelo contrário, constituem um elemento de uma rede descontínua de significados? A riqueza significante das imagens medievais reclama um esforço importante de renovação metodológica, como escreveu Baschet (2008). O processo de criação da imagem é bem mais complexo do que a simples ilustração de um texto ou de uma tradição oral. Mesmo se as imagens estão diretamente relacionadas com um texto elas têm uma estrutura e um funcionamento próprios: les images se pense entre elles (FAURE, 2000). Partindo das questões que colocámos sobre programas e elementos à margem analisaremos a escultura de capitéis e cachorros da capela-mor da igreja de S. Cristóvão de Rio Mau (Vila do Conde). |