Marta Simões |
Marta Simões é licenciada em História da Arte e em Direito pela Universidade de Coimbra. Actualmente, frequenta o curso de Doutoramento em História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, com o projecto de tese “A Construção do Cenário Doméstico em Portugal: Arte e Cultura Material nos séculos XV e XVI”. É investigadora (colaboradora) no Centro de Estudos em Arqueologia, Artes e Ciências do Património (CEAACP), Grupo de Estudos Multidisciplinares em Arte (GEMA).
Os seus interesses e áreas de investigação centram-se sobretudo nos domínios da Arte Medieval e Moderna, dos Estudos Visuais, da Antropologia da Imagem, da Cultura Material, da Iconologia e da Iconografia do Espaço. |
entre a margem e o centro:
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Os ‘espaços domésticos’ representados na pintura dos séculos XV e XVI têm exercido um crescente fascínio sobre vários historiadores de arte que se dedicam a esta cronologia, testemunhado pela quantidade de monografias e estudos científicos que a eles se referem publicados nas últimas décadas, sendo certo que apenas uma parte faz dos ‘espaços domésticos’ o objecto de estudo principal. No âmbito da nossa abordagem ao estudo do doméstico, enquanto categoria antrópica, cultural e visual, entendemos que, ao carácter simbólico de tradição medieval, de que a produção artística nunca prescindiria, se acrescentou uma nova capacidade de imitar o real, inaugurando-se deste modo um novo tipo iconográfico para temas consagrados, de que são exemplo as representações da Anunciação, da Virgem com o Menino, da Sagrada Família ou de diversos nascimentos, entre vários outros temas, todos eles tendo como cenário de fundo um espaço doméstico no qual a acção se desenrola. Com efeito, a partir da observação intensa da cultura visual de quatrocentos e quinhentos, verificamos que o doméstico assume um protagonismo iconográfico notável, contaminando, sobrepondo-se, e até mesmo invadindo espaços que não lhe eram até então próprios, manifestando ambições de maior rigor mimético, mais próximas do mundo visível e menos comprometidas com as exigências simbólicas próprias dos temas iconográficos religiosos onde se insere, embora delas nunca se afaste. Mapeado num tempo que se considera longo e em áreas geográficas muito diferentes, o doméstico representado será analisado a partir das noções de espaço e lugar com o objectivo de criar um quadro operativo topo-analítico de acordo com os diferentes níveis descritivos que apresenta. O lugar, enquanto manifestação concreta de um espaço, constituirá o ponto de partida e o referente explicativo dos diferentes espaços domésticos analisados. A sua declinação em outras categorias conceptuais – micro-lugar, quase-lugar, pseudo-lugar, hiper-lugar, entre outras, - permitirá efectuar o enquadramento de casos de estudo particulares, que consubstanciam uma complexa teia de relações entre centro e margem. |