Sandra Costa Saldanha |
Directora do Secretariado Nacional para os Bens Culturais da Igreja, da Conferência Episcopal Portuguesa. Membro do Conselho Nacional de Cultura, na Secção de Património Arquitectónico e Arqueológico (SPAA) e na Secção de Museus, da Conservação e Restauro e do Património Imaterial (SMUCRI). Representante da Santa Sé na Comissão Bilateral, no âmbito da Concordata de 2004, entre a República Portuguesa e a Igreja Católica. Representante da Comissão Episcopal da Cultura no Grupo Técnico Coordenador do projeto “Rota das Catedrais”, no âmbito do protocolo celebrado com o Ministério da Cultura.
Docente do ensino superior desde 1999, exerce actualmente, a tempo parcial, funções de Professora Auxiliar no IADE - Universidade Europeia e Professora Auxiliar Convidada na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Anteriormente, exerceu funções de docência, coordenação pedagógica e científica na Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa, nas áreas da História da Arte e das Artes Decorativas. Foi colaboradora do Departamento de Bens Culturais do Patriarcado de Lisboa e coordenadora do Serviço de Património, Investigação e Promoção Cultural, do Centro Cultural do Patriarcado de Lisboa, tendo a seu cargo diversas acções de dinamização do mosteiro de S. Vicente de Fora, e outras nas áreas da formação, inventário e investigação. Foi colaboradora da Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN) na elaboração de fichas IPA (Inventário do Património Arquitectónico), de edifícios classificados ou em vias de classificação do distrito de Lisboa. Doutorada em Letras, na especialidade de História da Arte, pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, é investigadora integrada do Centro de Estudos em Arqueologia, Artes e Ciências do Património da mesma Universidade. Dedicando-se ao estudo da arte portuguesa setecentista, em particular, às relações artísticas e culturais luso-italianas, é autora de diversos trabalhos nas áreas da escultura, arquitectura, iconografia e artes decorativas. |
à margem dos circuitos oficiais: corporativismo, ensino e produção escultórica nas oficinas setecentistas da calçada de Santo André |
«Por estes tempos viverão em Lisboa alguns Escultores em madeira, que tinhão laboratório publico na Calçada de Santo André». Esta é a frase lapidar de Cirilo Volkmar Machado (1748- 1823), a partir da qual a historiografia da arte portuguesa tem generalizado e atribuído a este arruamento lisboeta a fixação de um número invulgar de escultores no século XVIII. Assumindo como certa a concentração de diversos mestres e oficiais neste local, particularmente, aqueles especializados na realização de obras em madeira, a verdade é que Cirilo elenca apenas os nomes de sete escultores. Época marcada por uma geração onde poucos se distinguiram, a pista avançada pelo cronista tem, assim, servido para enquadrar os nomes de muitos outros artistas, quase sempre anónimos, de biografia e obra desconhecida, à margem dos circuitos oficiais. Imaginários e santeiros, relegados para um plano secundário no universo dos estudos que à escultura se têm dedicado, a marginalidade do tema assenta, também, na subalternização do próprio objecto artístico - as peças de imaginária - num contexto essencialmente marcado pela encomenda de escultura devocional. De particular relevância é ainda, para além da qualidade (desconhecida) e quantidade (incalculável) das obras produzidas, o papel exercido por estas oficinas na formação de inúmeros artistas, entre os quais, alguns de particular influência no panorama escultórico setecentista, como Manuel Dias, Joaquim Machado de Castro ou Joaquim José de Barros Laborão. Período marcado pela ausência de Academias, como tantas vezes lamenta Machado de Castro, a falta de um sistema de ensino organizado seria claramente colmatada, até meados do século XVIII, por este tipo de estruturas. Seguindo a tradição da transmissão familiar do ofício, será pois, neste contexto, que se inscrevem as célebres oficinas da calçada de Santo André. Com o recente desenvolvimento dos estudos em torno das primeiras instituições oficiais de ensino (nomeadamente, as escolas de Mafra e Lisboa, ou as várias aulas régias pombalinas), a investigação em torno do tema perdura descurada, cristalizada no testemunho de Volkmar Machado. Essenciais na aprendizagem e exercício profissional de dezenas de escultores, oriundos de diferentes pontos do país, tarda em emergir uma investigação sólida e, com ela, um mais completo conhecimento das práticas artísticas coevas. Neste contexto, visa esta proposta apresentar os resultados da investigação em curso, nomeadamente: sublinhar a centralidade destas oficinas na prática artística setecentista; enquadrar o universo formativo dos escultores envolvidos; aferir o fenómeno corporativo associado; reconhecer os processos de encomenda e trabalho; identificar os principais intervenientes; e analisar as obras de arte apuradas. |